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segunda-feira, janeiro 14, 2008

O engate

Mais cedo ou mais tarde teríamos que falar de engate
numa revista como esta e como não gosto de deixar
as coisas para mais tarde, falamos já agora. O engate é
uma arte e como decerto compreenderão, nem todos a
dominam: Ou porque são saloios na forma de agir ou
porque não nasceram para isto e o melhor é ir para casa
que já é tarde. Quem não percebe nada de engate, muitas
das vezes não devia sequer experimentar. E porquê?

Porque estraga. Estraga a reputação de muitos daqueles
que se entregam a esta ancestral técnica – que não é
para qualquer um! - e estraga igualmente os planos que
já podem estar no terreno sem que este palerma note.
Vejamos: Quantos de nós, já não fomos vítimas disto?
A conversa vai boa, a coisa está encaminhada – Vives
sozinha? Onde é que moras? – E para nosso absoluto
infortúnio alguém nos aparece – normalmente uma
abécula da pior espécie – que a nós se junta e começa a
falar sobre a agricultura de estufa do Bombarral ou da
emigração do robalo no final do Verão.

E nós ali – que já
tive em todos os continentes, que o meu pai tem muitos
terrenos – nós a ouvirmos isto tudo – que o Orçamento
de Estado do governo português devia ser rectificado –
nós com os olhos grandes, gigantes, prestes a explodir
– que esta televisão não presta, que os telejornais são
demagógicos – nós a pensarmos em como é que esta
ave rara vai perceber que está a mais – Que o casino vicia,
que o jogo devia ser proibido – Nós a pensarmos no
número 13 e dando razão aos que dizem que por vezes
é melhor ficarmos em casa – Que eu isto e aquilo e faço
e aconteço – até que temos que tomar uma atitude que
passa invariavelmente pela frase:

“Bem, vamos ter que
ir indo!”. E com isto perdemos o timing à custa daquele
corta-feelings que nunca deveria ter aparecido.
Voltamos ao engate. Os especialistas nesta temática têm
uma tese que é esta: Tudo é preferível a ficar calado! E
eu sou obrigado a concordar, porque por falta de coragem
– que aqui o rapaz também é tímido –, porque os
outros podem ver, que aquele que está ao lado pode ser
o namorado, que ela não me vai ligar nada, já terei perdido
possivelmente 20 mulheres que poderiam muito
bem ter sido a mãe dos meus filhos (que seriam bonitos
como a mãe e claro, inteligentes como a mãe).

Assim,
pensem nos Testemunhas do Jeová que há anos andam
de porta em porta a divulgar a sua religião e que ainda
antes de dizerem bom dia já vão levando com “Olhe
que eu agora estou com muita pressa! Olhe que eu não
acredito em nada disso!” pensem neles, na quantidade
de portas que já lhes devem ter sido fechadas com rispidez
– ai que agora estou com pressa! – Pensem, pensem
neles a descerem as escadas – vocês a irem em direcção
à pessoa que querem – pensem neles a baterem a outra
porta imediatamente a seguir – vocês a levarem a pior
das negas – e ainda assim eles – vocês – a tentarem
outra porta – vocês a partirem para outro alguém – sem
nunca desistir – sem nunca desistir.

Será isso, essa capacidade de ouvir um não de alguém
com se nos tivessem a dizer “olhe, desculpe mas não
temos o jornal do dia!” que nos diferenciará dos demais
e nos fará desejados junto de tudo quanto é movimento
religioso. É tudo por hoje. Com a vossa licença, vou indo.

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